02/08/09

Ultimas reflexões

Ultimas reflexões.

Na noite passada saímos do campo base por volta da meia-noite em direcção à face sul do GVI. Uma hora e meia depois, cruzavamos várias acumulações de grandes avalanches recentes. Um encontro bastante perturbador.
Uma hora depois, passámos a fenda da rimaya e rápidamente atingimos o primeiro esporão de rocha. A neve não estava em más condições mas, por debaixo corria água a jorros.
Três e meia da madrugada e a temperatura encontrava-se acima dos zero graus. O céu estava estrelado e o tempo perfeito mas, nos nossos espiritos começavam a surgir as dúvidas... com o calor do novo dia, como iriamos encontrar a neve lá por cima?
Numa parede com cerca de 2000 metros, como iriamos descer se não encontrassemos condições de gelo para montar instalações de rapel?
Era impensável destrepar uma face tão grande como aquela. Este pensamento e uma grande tristeza acompanharam-nos durante a descida de retirada.

Deste modo damos por terminada a expedição sem o sucesso desejado.

Terminamos com um resumo da actividade:

Tinhamos como objectivo principal a escalada do Esporão dos franceses no Gasherbrum II e como objectivo mais ou menos secreto o Gasherbrum VI, com 7004 metros e oficialmente virgem.
O mau tempo constante carregou o GII de neve e impossibilitou uma tentativa realista ao Esporão dos franceses.
No entanto, conseguimos realizar a aclimatação necessária para tentar o GVI. Encontrámos uma possivel linha mais ou menos segura de avalanches na face nordeste da montanha e lançamo-nos a ela.
Escalámos cerca de 800 metros para descobrir uma parede de neve inconsistente, a uns 60 metros da aresta, impossivel de trânspor. Seguiu-se uma sucessão de rapeis e destrepes delicados até à base da parede. Uma aventura que culminou 20 horas depois do seu inicio.
Dias depois decidimos realizar uma tentativa à via normal do GII (uma vez que o Esporão dos franceses era já um assunto esquecido). Subimos ao campo 1 com a intenção de esperar pelo melhor dia de cume. Nesse dia recebemos a noticia que Luis (um amigo espanhol que conheceramos anos antes), desaparecera após uma tardia tentativa de cume no GII. Corria o rumor que tinha caído para a vertente chinesa e que estava morto. As más noticias deixaram-nos perturbados e tristes mas, mantivemos os planos de realizar a nossa tentativa.
Por volta das 21 horas dessa mesma noite foi avistada (também por nós) uma luz de frontal que piscava desde muito alto no GII, na travessia, a cerca de 7700 metros de altitude. Luis estava vivo!
Entre nós e os membros da empresa "Altitude junkies", presentes no campo 1, foi decidida a realização de uma tentativa de resgate. Como sabiamos falar espanhol e inglês, a Daniela e eu voluntariamo-nos para voltar a descer o glaciar até ao campo base de forma a tentar organizar uma equipa de resgate. Infelizmente, uma certa inércia por parte de algumas pessoas e o mau tempo que se instalou nas montanhas nos seguintes dias impediram a subida da ajuda necessária... e o Luis desapareceu para sempre.
Este dramático acontecimento fez desaparecer também a nossa oportunidade e ânimo para voltar a tentar o Gasherbrum II.
Como derradeira tentativa e, depois de "limpar" a nossa tenda do campo 1, voltámo-nos para a face sul do GVI.
O resultado desta incursão encontra-se descrita no inicio deste ultimo relato.

Agora, resta-nos esperar pelos carregadores, para pudermos iniciar o trekking de cerca de 100km do Baltoro, que será o principio do regresso ao "nosso mundo".

Paulo

01/08/09

GVI - aí vamos nós outra vez!!!

31-07

Na moreia do campo base reina o silêncio.
Hoje, algumas equipas voltaram a cruzar o glaciar em direcção ao campo 1. Alguns elementos que compartilhavam connosco o campo base rumaram em direcção a Skardu.
Para além do pessoal das agências, restamos na moreia eu, o Paulo e o Dirk, que amanhã inicia o seu regresso a Skardu.Eu e o Paulo mantemos ainda a esperança de tentar o GVI, mas a meteo não está a querer ajudar. Necessitamos de pelo menos um dia de sol antes de iniciarmos a escalada da face de cerca de 2000m que nos separa do cume da montanha que se encontra mesmo à frente dos nossos narizes.
Queriamos sair hoje à noite, mas o dia está cinzento e alguns flocos de neve insistem em aumentar as nossas duvidas e ansiedade. No entanto, preparamos o equipamento para a tentativa... a ultima tentativa.
Será amanhã à noite o inicio de uma fugaz aventura?
As horas tornam-se longas, mas o tempo foge-nos entre os dedos... estranho contra-senso este...


1-08

Esta noite vamos iniciar a segunda tentativa ao Gasherbrum VI.
A parede está calma e as previsões apontam para bom tempo até ao dia 5. Não necessitamos de tanto. Com sorte bastam-nos dois dias e meio para subir e descer a via que imaginámos na face sul do GVI.
Nesta próxima noite iremos testar as condições da neve na vertente. Se a coisa se apresentar favorável e segura continuamos, senão... daremos por terminada a expedição.

Daniela